Conservador, Moderado ou Arrojado?

Desde 2013, a Comissão de Valores Mobiliários – CVM tornou obrigatória a análise do perfil do investidor, através da instrução 539.

Geralmente os futuros investidores respondem um rápido questionário (suitability) e, de acordo com as respostas enviadas, seu perfil é definido como Conservador, Moderado e Arrojado.

Essa iniciativa é fundamental para que o investidor aplique somente em produtos que se harmonizem ao seu apetite por riscos, objetivos e experiências.

Acontece que, num cenário mais macro, é possível dar novas definições aos perfis de investimento mencionados na legislação brasileira. A história abaixo, narra uma dessas novas interpretações das características de investidores, vista pelo ângulo global, por exemplo.

Há alguns anos, atendemos um cliente que se declarava extremamente conservador. Feito o levantamento do patrimônio investido, verificou-se que ele possuía todas as suas aplicações em único banco varejo, em um produto de renda fixa, um daqueles garantidos pelo FGC (Fundo Garantidor de Crédito) e com um rendimento pouco atraente, para dizer o mínimo.

E o cliente repetia, a cada dois minutos da nossa conversa, que ele era extremamente conservador!!!

Depois de alguns minutos, lancei para ele a seguinte afirmação: Olha, acho o senhor extremamente arrojado, corajoso, arriscado!

Ele me olhou assustado, ficou algum tempo em silêncio, me ouvindo (a primeira vez desde o início da nossa conversa!) e eu aproveitei para colocá-lo para refletir sobre alguns pontos:

– todo o patrimônio dele está em um único produto financeiro;

– esse produto tem um rendimento pífio e um risco enorme, pois essa quantia esta no patrimônio do Banco para que ele especule com o dinheiro do cliente e, caso a instituição financeira coberta pelo FGC não consiga honrar com seus compromissos, em casos de decretação de intervenção ou liquidação extrajudicial, por exemplo, o cliente fica garantido no recebimento de R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais), que é o limite de pagamento pelo FGC por CPF.

– o cliente possuía nesse investimento pouco menos de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) e, se ocorresse algum problema de liquidez com a instituição bancária, receberia apenas os R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais) garantidos pelo Fundo Garantidor de Crédito.

Já do ponto de vista global, temos que refletir sobre os seguintes pontos:

– todo o rendimento do cliente é em real, está aplicado em real, e o seu custo de vida, muitas vezes, está em dólar (passagens aéreas, produtos eletrônicos etc…)

– em 10 anos, o Real se desvalorizou frente ao Dólar 200,41%.

– um dos princípios básicos do investimento é a diversificação e está se dá não só em relação aos produtos financeiros, mas em relação à jurisdição.

– o Brasil representa apenas 3% da economia global, sendo certo que é um país com instabilidade política e econômica, o que prejudica sobremaneira os investidores nacionais e afasta os internacionais.

Por todos esses motivos fica fácil observar que esse cliente aparenta muito mais ser um investidor arrojadíssimo do que extremamente conservador!

Pense e explore esse assunto. Vamos conversar sobre esse tema?